As corridas organizadas pelo mudo.
Sempre que ele viesse a Cancelos, mandava juntar o pessoal, e bastava uma assobiadela, que toda a tropa se reunia no areio para a habitual corrida, aquele que faltasse, já sabia que na próxima era excluído da corrida, o prémio para o primeiro, era sempre a velha Cabilha toda enferrujada, o segundo um prego, o terceiro um prego mais pequeno. Estas disputas, quase sempre acabavam em bulha, (porrada de putos) porque uns metiam-se a impedir que os outros passassem e a coisa por vez era complicada.
Nem sempre ganhavam os que corriam mais, mas os que no momento da corrida tivesse maior número de amigos. Trocava-se de amigo por dá cá aquela palha.
As Ovelhas e as Cabras
Por volta dos meus seis anos, passei a ter de ir com as ovelhas da minha avó para o maninho (baldio), ali era da Freguesia e toda a gente podia e tinha direito a andar com o gado.
A maioria das pessoas tinham este tipo de gado e algumas havia que tinham Cabras.
A Ovelha é aquele tipo de gado que pasta a eito, ao contrário da cabra que só come a parte de cima e é sempre a andar e em pouco tempo percorre grandes distâncias. Mas nas Ovelhas da minha Avó uma meia dúzia, uma havia que era tipo cabra. Para aumentar as dificuldades era grande e tinha muita força superior à minha e quando chegavamos ao maninho ela queria andar sempre para a frente, tinha mais força, e como tal eu lá a deixava ir, ficava com os outros nas bricadeiras ou no jogo e quando desse por ela já ela andava a léguas, o que me obrigava depois andar atrás delas muito tempo, pois se a amarrase, quando chegasse a casa a minha avó apercebia-se e treinava-me. Mas bastava que um ou dois amuasse e viesse embora e contasse o sucedido à minha Avó, que chovia na mesma.
Aliás a tareia essa quase esrava certa, mas já fazia parte do programa.
Mas a coisa ainda se resolvia normalmente sem grandes problemas, até ao dia que!!! Entra na cena o
O Fernando Serralheiro e o Cerqueira!!!! Dois patifes de primeira apanha. Judas e Lucifer
Ambos mais velhos que nós alguns anos, e quer um quer outro qual dos dois o pior patife. Do género se um diz mata o outro esfola.
Ambos tinham Ovelhas e Cabras, já mandriões, faziam de nós gato sapato e o pior é que se fossemos dizer aos nossos Pais, as coisas ainda se complicavam mais para nós.
O Cerqueira: o Tio dele "o Cunha" tinha uma Taberna, onde o Cerqueira lá ía sacar uns rebuçados e uns tostões, a principio começaram como pessoas bem comportadas a nos presentear com rebuçados e com um ou dois tostões, sempre que regressassemos com o gado, por vezes depois de andar pelo monte à procura de as encontrar uma hora e mais. Os rebuçados ainda nos autorizavam a chupar, os tostões diziam que o guardavam e que nos o davam no outro dia, mas no outro dia lá com o jogo a Pincha e ao Montinho, lá nos sacavam tudo.
Se dissessemos que não íamos ainda nos acertavam o passo e isso não aconteceu poucas vezes.
Estas almas ainda tivemos de as gramar por mais uns anitos e cada vez se tornavam piores.
Cenas do próximo capitulo:
A entrada para a Escola.
Só fui pastor um único dia, e jurei nunca mais, as cabras e ovelhas não me tinham respeito nenhum, mandava parar e elas ainda andavam mais depressa, se mandasse andar paravam, metiam-se por locais onde um gajo não conseguia ir, foi um dia para não esquecer, e olha que já devia ter para aí uns quatorze ou quinze anos, o Pastor foi á inspecção Militar e o Patrão pediu-me para o substituir, nunca mais quis ver gado á minha frente.
ResponderEliminarUm abraço
Virgílio
Até eu fui destacado para andar com as ovelhas no pasto!
ResponderEliminarEsperem pelo respectivo capítulo das minhas memórias que já está no prelo!
Força Valdemar, vai ao baú das memórias e bota cá para fora que estou curioso para ouvir o resto.