terça-feira, 30 de novembro de 2010

O Mudo, As Ovelhas, o Serralheiro e o Cerqueira

As corridas organizadas pelo mudo.
Sempre que ele viesse a Cancelos, mandava juntar o pessoal, e bastava uma assobiadela, que toda a tropa se reunia no areio para a habitual corrida, aquele que faltasse, já sabia que na próxima era excluído da corrida, o prémio para o primeiro, era sempre a velha Cabilha toda enferrujada, o segundo um prego, o terceiro um prego mais pequeno. Estas disputas, quase sempre acabavam em bulha, (porrada de putos) porque uns metiam-se a impedir que os outros passassem e a coisa por vez era complicada.
Nem sempre ganhavam os que corriam mais, mas os que no momento da corrida tivesse maior número de amigos. Trocava-se de amigo por dá cá aquela palha.
As Ovelhas e as Cabras
  Por volta dos meus seis anos, passei a ter de ir com as ovelhas da minha avó para o maninho (baldio), ali era da Freguesia e toda a gente podia e tinha direito a andar com o gado.
  A maioria das pessoas tinham este tipo de gado e algumas havia que tinham Cabras.
A Ovelha é aquele tipo de gado que pasta a eito, ao contrário da cabra que só come a parte de cima e é sempre a andar e em pouco tempo percorre grandes distâncias. Mas nas Ovelhas da minha Avó uma meia dúzia, uma havia que era tipo cabra. Para aumentar as dificuldades era grande e tinha muita força superior à minha e quando chegavamos ao maninho ela queria andar sempre para a frente, tinha mais força,  e como tal eu lá a deixava ir, ficava com os outros nas bricadeiras ou no jogo e quando desse por ela já ela andava a léguas, o que me obrigava depois andar atrás delas muito tempo, pois se a amarrase, quando chegasse a casa a minha avó apercebia-se e treinava-me. Mas bastava que um ou dois amuasse e viesse embora e contasse o sucedido à minha Avó, que chovia na mesma.
Aliás a tareia essa quase esrava certa, mas já fazia parte do programa.
   Mas a coisa ainda se resolvia normalmente sem grandes problemas, até ao dia que!!! Entra na cena o
O Fernando Serralheiro e o Cerqueira!!!! Dois patifes de primeira apanha. Judas e Lucifer
 Ambos mais velhos que nós alguns anos, e quer um quer outro qual dos dois o pior patife. Do género se um diz mata o outro esfola.
 Ambos tinham Ovelhas e Cabras, já mandriões, faziam de nós gato sapato e o pior é que se fossemos dizer aos nossos Pais, as coisas ainda se complicavam mais para nós.
     O Cerqueira: o Tio dele "o Cunha" tinha uma Taberna, onde o Cerqueira lá ía sacar uns rebuçados e uns tostões, a principio começaram como pessoas bem comportadas a nos presentear com rebuçados e com um ou dois tostões, sempre que regressassemos com o gado, por vezes depois de andar pelo monte à procura de as encontrar uma hora e mais. Os rebuçados ainda nos autorizavam a chupar, os tostões diziam que o guardavam e que nos o davam no outro dia, mas no outro dia lá com o jogo a Pincha e ao Montinho, lá nos sacavam tudo.
     Se dissessemos que não íamos ainda nos acertavam o passo e isso não aconteceu poucas vezes.
 Estas almas  ainda tivemos de as gramar por mais uns anitos e cada vez se tornavam piores.
 Cenas do próximo capitulo:
                            A entrada para a Escola.

2 comentários:

  1. Só fui pastor um único dia, e jurei nunca mais, as cabras e ovelhas não me tinham respeito nenhum, mandava parar e elas ainda andavam mais depressa, se mandasse andar paravam, metiam-se por locais onde um gajo não conseguia ir, foi um dia para não esquecer, e olha que já devia ter para aí uns quatorze ou quinze anos, o Pastor foi á inspecção Militar e o Patrão pediu-me para o substituir, nunca mais quis ver gado á minha frente.
    Um abraço
    Virgílio

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  2. Até eu fui destacado para andar com as ovelhas no pasto!
    Esperem pelo respectivo capítulo das minhas memórias que já está no prelo!
    Força Valdemar, vai ao baú das memórias e bota cá para fora que estou curioso para ouvir o resto.

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