quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

A minha Comunhão Solene

O meu relacionamento com a Beta Ti Maria Zé nunca tinha sido bom, ela sabia que eu não gostava nadinha daquilo e que estava ali a fazer um grande sacrifício, mas nem por isso evitava que eu fosse dos melhores na Catequese e por muitas voltas que ela tentasse dar eu respondia sempre, porque decorava aquela lenga lenga toda que ela dizia.
Preparativos para a Comunhão Solene
Foram os meus Pais falar com a minha Madrinha e Padrinho, e estes logo acertaram entre si o que dariam: logo o meu Padrinho marcou para irmos ao alfaite para mandar fazer um fato novo e daria ainda o chapéu, enquanto a minha Madrinha comprometeu-se a dar-me os Sapatos, Camisa e Gravata.
A proposta direi que na altura quase era irrecusável e até andei uns dias a portar-me bem. Pela primeira vez iria ter uma fatiota completa.
 A Paz durou pouco!!!
  Naquele tempo o Padre fazia a Selecção de quem iria cantar e quem seria Trombone (não ter voz), como se isso não chegasse decidiu que o Tono Alemão seria o meu parceiro.
O Padre e Eu !!!   
Quando ele me o disse: pedi-lhe para me trocar e evoquei razões:- O Tono era mais velho que eu, também era trombone e levava um fato já p´ra aí em terceira mão vindo dos Irmãos.
    Não me atendeu, porque o que ele não queria mesmo era colocar-me ao lado do Fifas ou do Tono Pombas.
    Disse-lhe então que não iria comungar e pus-me na alheta.
    Lá foi à minha procura uma senhora de Rio Mau (Beata) e depois de muita conversa convenceu-me a ir que segundo ela pedia ao Padre para me trocar o companheiro.
 É o trocas!!! Quando me deitou a mão foi buscar a régua grande com milheiros e toda a dar sem dó nem piedade, ficaram as mão a reverter sangue.
   Claro que mandou dizer aos meus Pais o que estava a  acontecer. Foi o bom e o bonito e mesmo no dia da Comunhão os meus Pais lá íam sempre próximos de mim com medo que eu me pirasse.
   Pensava em fugir, mas o fato e os Galórios para o almoço também ajudaram e muito a que me mantivesse sereno todo o tempo em que durou a cerimónia.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Neste como em todos os Natais o Fiel Amigo não Faltou

Estava a ser um ano de tremenda dificuldade, mas a garrafinha do Azeite novo que tinha sido feito no Engenho em Santa Cruz das nossas Oliveiras lá estavam guardada, para regar sem restrições as Batatas o Bacalhau e as Trinchudas e molhar a côdea de Broa nesse mesmo azeite.
   Tinha vindo bastante Lenha pelo Rio abaixo, o que permitiu que a fogueira tivesse uma boa labareda e brasas acolhedoras.
   Acabados de Cear, lá seguimos o Ritual de Joelhos e com a minha Mãe a passar o Terço e a pedir ao Menino Jesus, pois neste tempo ainda não havia Pai Natal para que não se esquece-se de nós.
  Foi mais um Natal de enorme Felicidade.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Putos Alpinistas = Descer e Súbir as Fragas (Vertigens)

Putos Armados em Alpinistas
Era costume nós descer e subir as Fragas, direi mesmo que era um procedimento normal andar metidos em aventuras para descobrir onde o Ujo fazia ninho. Como também fazer-se escalas sendo que cada um procurava em cada dia o fazer por locais mais difíceis. Isto já vinha dos mais antigos e felizmente que eainda até aos dias de hoje não morreu ninguém de queda.
     As Fragas da minha Aldeia, sejam as do Vale Escuro, ou da Abitureira, tem várias dezenas de metros de altitude.
      Tem muito musgo e são bastante amareladas ( dizia um bem dito mentiro o Ti Sapateiro de Cancelos, que eram assim amarelinhas, porque ele há muitos anos quando era novo as tinha pintado)
      Foram muitos os sutos que muitas vezes apanhamos, mas nada que não fossemos superando e não eram o suficiente para nos desmotivar.
   Entre o Borracho e o Sopapo, Deus mete a mão por Baixo
   Um belo dia, estavam as fragas muito húmidas e deu-me para descer por um local onde tinha muito musgo, cheguei a um ponto que não tinha onde colocar o pé direito, pois ficava uns centimetros mais abaixo.
 Sem força já nos dedos das mão com que me segurava, fui deslizando e lá consegui descer, recordo-me que no momento de grande dificuldade olhei para baixo, sabia que estava a mais de trinta metros de altura, se caísse não tinha a minima hipótese. Quando cheguei cá abaixo olhei pra cima e comecei a tremer que nem varas verdes, a partir dali, jamais fui capaz de deixar de ter vertigens e quando nas obras mesmo cá em baixo olhava para cima e via os trolhas nos quatros e quintos andares, tremia e dormia muito mal, mesmo quando acordava ou ainda mesmo hoje acordo de noite e me vem isso à ideia, tremo todo.
     Por incrível que parece até as ribanceiras e pontes que vejo na NET me fazem tremer.
     Traumas de criança que são incuráveis. Vá lá saber-se porquê???

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Cobras e Trauma = Vida de Criança

Ao fundo das fragas do Vale Escuro, tinha ali um Silvado, onde ao lado havia um carreiro por onde, começavamos a subir para escalar as fragas e foi precisamente por este carreirito onde eu e o Albano Pombas tinha-mos levado a Ovelha, para depois a empurrar fragas abaixo.
  Nesse dia nem Pombas nem Fifas, nem Malhado nem viva alma, me acompanhava.
  Andava eu sózinho, "o que era pouco normal acontecer" com as ovelhas da minha Avó.
 Tive de ir lá vira-las porque uma delas ficou presa nas Silvas, pois tinha a lã grande.
  Quando me aproximei dela; vejo-me rodeado de Cobras a saltar mais alto que eu, era em grande número, tinham um rabo curto e algum cabelo. Sujei-me todo e fiquei estático.
  Foi um espectáculo deprimente e soube depois que elas andavam a machiar e quando isso acontece que se tornam agressivas.
 Foi tal o susto que apanhei, que ainda hoje e só a falar nelas como agora, ainda me arrepio todo.
 Seja no Jardim da Maia, ou no Zoológico fui ver algumas exposições e segundo diziam uma das quais seria das melhores do mundo e nas quais, haviam inúmeras espécies.
 Elas estavam fechadas, mas eu mantinha-me todo encostado à parede e cheio de tremeliques.
 Fiquei de tal ordem horrorizado e traumatizado, que hoje quando na minha aldeia (nos meus campos ou caminhos), deparo com alguma, continuo a ficar estático. Já por  três vezes dei com três  mortas "uma de cada vez" e mesmo a arrumá-la com uma vara, é sempre a  a tremelicar enquanto dura a retirada e durante um ou dois dias, quando me lembro ou acordo de noite e elas me vem à ideia, fico todo constrangido.
 Marcas de infância que nunca se afastam de nós.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Como fui feliz na minha infância = Tinha direito a sonhar

O Fim do Mundo no Ano dois Mil e o NatalQuais miúdos da minha idade não se lembram das professias daquele tempo em que se dizia que dos dois mil não passarás.
 Junto às margens do Douro, fazia-mos as contas dos anos que havia para viver.
 Era a altura da Tuberculose e via-mos morrer gente muito nova.
 Verdade, que as pessoas com sessenta anos era consideradas gente de muita idade, já que a média de vida rondava os sessenta anos. Morrer aos cinquenta e sete no meu caso, nem era muito mau.
O Peixe no Rio e outros meios de Subsistência!!!
O Rio nestas alturas, e mais concretamente a partir de Setembro e até Fevereiro não dava peixe, nem era permitido pescar.
    O dinheirito que as nossas mães ganhavam com a apanha e venda da Carqueja e da Queiró não dava nada, pois com o Inverno não dava para ir apanhá-la. Mas também molhada carregava-se meia dúzia de botenos.
   O meu Pai trabalhava nos Rabões como adventício e só de quando em vez lá aparecia uma viagenzita, por doênça de algum Barqueiro efectivo, mas também porque as cheias do Rio não permitiam o transporte e quando o faziam o Rebocador levava uma boa parte do dinheiro.
  A fruta!!! Apenas e só uma laranjas e nesta época azedas que nem rabo de gato.
  
Foi-se para o Talho o sustento da casa.
        O Porco, era o Governo da casa, e durante este período era o que valia, mas uma maldita doênça, neste ano, resolveu atacar o que tinha-mos  e que estava prevista a sua matança para uns quinze dias depois.
  Apanhou talvez uma pneumonia e quase de graça foi vendido para um talhante de Entre-os-Rios.
Valeu na circunstância as côdeas muitas vezes com Bolôr dos peditórios que a minha Prima Barrota andava a fazer diáriamente e assim se foi entretendo a barriga, com o bocado de adubo (toucinho) a ser deitado no caldo quatro e cinco vezes, misturamdo-lhe umas folhas de couve e uma mão cheia de farinha. Era melhor que hoje muitas vezes um bom bife. Aquela sopa sabia a tudo e então o rostulho!!!
  Mas no Natal lá houve as batas, a postinha de bacalhau e regadas com azeite das Oliveiras lá de casa.
   A aletria e as Rabanadas também não faltaram.
    O Menino Jesus (Pai Natal de Hoje) também colaborou e lá deixou ficar na Lareira umas Bolachas de Água e Sal.
E claro para que fosse  um Natal muito feliz, tinha lá o coração da minha Mãe a jorrar pingos de amor.
    Fui muito feliz com os Natais  da minha Infância.
  A vida tinha-nos ensinado a ser humildes.

Uma Paixão que perdura
Desses tempos  de atroz
Mas a tradição continua
Vinda de meus Pais e Avós

domingo, 19 de dezembro de 2010

O Puto também tinha coisas boas!!!

Tenho vindo a contar as perípécias ocorridas no meu tempo de criança, direi que a procissão ainda vai no adro como ousava dizer-se nas minhas aldeias.
 Mas para que não passe apenas e só a mensagem de que fazia-mos apenas e só coisas más ou péssimas, que a nossa arma era a desobediência etc. etc.
Aqui fica : - Não, no meio de toda esta movimentação ainda nos sobrava tempo para praticar  boas acções.
     Era-mos incapazes de dizer não a qualquer pedido que nos fosse feito, desde o ajudar as pessoas mais idosas a levarem um caneco, ou um regador de água, uma bacia cheia de roupa lavada ou suja, ficar-mos com uma criança, enquanto a Mãe dela tirava ou avinhava a rede.
Enfim, eramos putos amigos de ajudar, também ai de nós se o não fizesse-mos, pois ao chegar aos ouvidos dos nossos Pais as coisas acabariam por nos saír a fava.
     Na minha Aldeia, nós os Putos tinhamos um respeito e obediência para com os mais velhos.
     Sabemos que ao estar-mos sempre por perto deles, fosse nos areios à pesca, fosse, quando amarravam os botenos de Carqueja e Queiró, ou ainda nos lindos bailaricos e cantigas ao desafio, debaixo da Ramada da Beata Ti Maria Zé, ou na Tasca do Pereira em Midões.
As boas e más contribuíram para uma infância de enorme felicidade e a fomentação de uma sã amizade entre os mais velhos e mais novos.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Mais um Puto da minha Criação que vejo Partir.

Um Puto pertencente à Geração de Ouro da 5ª Coluna
Partiu o António Pires, um puto que nasceu na casa onde cresci e ´r património meu em Cancelos/Sebolido.
Ainda o António não tinha dois anos e caíu rebanceira abaixo,  sorte que ficou encostado a um pequeno arbusto, e assim não foi parar ao Rio, que se tal acontece-se teria tido ali uma morte trágica.
 O António teve uma infância  muitíssimo difícil, apesar do Pai do António ter sido Sargento na Tropa e a Madrasta do seu Pai Professora em Sebolido, e o Avô do António Oficial do Exército em Penafiel, não deixaram haveres e quando o Pai do António foi corrido de Sargento da Tropa, a pobreza foi extrema.
   Andou em miúdo muito tempo a pedir Esmola, mas cedo começou a trabalhar, tendo contudo feito a quarta classe no seu tempo, o que era um luxo por ser coisa rara, nas crianças.
    Não foi melhor nem pior do que nós os daquele tempo, o António pertencia à elite dos tratantes e esteve sempre em todas e na linha da frente.
    Numa luta de Freguesia/Lugar, Lugar Freguesia em que esteve pelo meio um Burro como o personagem principal o António lá estava, e foi até dos que mais trabalho teve até chegar-mos com ele ao destino e o amarrou em frente e a uns escassos 20 metros do então Presidente da Junta.
      Como não podia deixar de ser também marchou para o Posto da GNR em Penafiel e teve de pagar ao Advogado 500#00.
  Mais tarde a sorte foi madrasta para o António, e num acto tresloucado terá feito o que não devia.
  Isso acompanhou-o até ao seu fim.
  Tive o privilégio de privar de novo com ele nestes últimos seis anos.
   O António escrevia uns versos, onde ali expressar a sua dor.
    Li-os e acheios inyteressantíssimos.
   Insisti com ele e consegui reunir muitos deles e públicar numa espécie de livro.
   Foi uma felicidade enorme para o António e isso trouxe-lhe de novo a vontade de viver. Segundo me
dizia. Auilo para ele passou a ter um valor incalculável.
    Insistia com ele para que escreve-se mais, dizia sempre  que o faria, o certo que foi adiando.
    Fazia-o de noite e normalmente, escrevia em rolo de papel higiénico.
    Não sei se o António deixou alguma coisa mais escrita em versos.
    Vou procurar indagar junto da filha e terei uma honra enorme se acaso tiver deixado, e me for autorizado  os juntar, aos que já lhe editei.
     O António Pires merece de mim esse reconhecimento. 
     Partas para onde partires!
    Obrigado por tudo o que partilhamos.
     Só se morre, quando deixamos de estar no coração de alguém.  Irás continuar comigo até ao fim dos meus dias.   

Esconder-me no Lagar Velho do Guerra Noite Dentro

Ficar de noite fora de casa aos Nove anos
Naquele tempo andar de noite não era para todos.
     Havia um medo tremendo os mais velhos metiam medo aos mais novos com o aparecia isto e aquilo e o mais caricato, é que eles próprios se borravam todos se tivessem de andarem sózinhos de noite, se aparecia um gato, era o tardo, um cão era o Lubizome, uma coisa branca a mexer eram as bruxas etc. etc.
   Nunca fui medroso e a noite para mim não era obstáculo, mas mesmo que tivesse medo, se calhar o medo da porrada que me esperava  levaria-me a que viesse a tomar a mesma atitude.
  Ao saber que o meu Pai tinha tido conhecimento daquilo que tinha feito ao Adolfo Muge e ao Barnabé o meu Pai iria-me dar-me  forte e feio. Não precisei de pensar muito para decidir - me. Vai daí pirei-me.
  Noite dentro como nãoa apareci, ele começou pela casa dos Pais dele, a correr todos os cantos não fossem os meus Avós me esconderem como eu não estava lá, mobilizou toda a gente à minha procura, só que eu tinha escolhido bem o sitio e muito difícilmente daria comigo, já que eu me fui meter dentro de um monte de tábuas e ripas com umm monte de tenhas etc.
  Ratos lá eram uma farturinha, tal o lixo que lá havia.
  Começaram a procurar e passaram por lá uma duas vezes, até que pela terceira ouvi o meu Pai a chamar do tanque e a jurar pela alma do Avô dele que me perdoava, se estivesse a ouvir para vir embora que não me batia.
 Saí do esconderijo,e cá de cima onde ainda podia fugir, falei e disse-lhe para ele jurar outra vez, e, ele jurou, então disse-lhe que tinha medo dele e que me deixa-se ir dormir a casa do Pai dele meu Avô.
  A principio disse-me que não.
  Respondi-lhe que então ía fugir e que me ía matar.
  Jurou que não me batia, para não fazer asneiras e então que fosse dormir a casa do meu Avô Pai dele.
  Não sei que Santo me protegeu, certo é que o Adolfo e o Barnabé ficaram com elas e eu passei sem levar aquela valente sova que me iria ficar certamente em recordação.
O aviso à Professora veio depois.
Ser Guindado à trave, onde dependurada o Porco, para ver se ganhava emenda. É o Guindas.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Entrega do Banito = O Caso Barnabé e Manuel Papas

Poderia ter sido uma grande Atenuante- Entregar outro fugitivo.
No dia seguinte lá fui ficando para trás e o Banito também, ambos estavamos condenados ao castigo, eu muito mais que ele.
  Pensei então que se entrega-se o Bano a minha pena teria atenuante. Do pensar fazer,ao fazer foi num ápice.
   Segurei o Bano, comecei a berrar pela professora e lá o entreguei, verdade que o Bano como convinha não ofereceu muita resistência.
   Lá fomos para dentro e ela disse que iria pensar no castigo a aplicar a um e a outro.
    O  Teste à mão direita do Barnabé
 Por volta das dez horas, lembrou-se de me chamar e depois chamar o Barnabé. Então mandou-me colocar as mão em baixo e disse que ele iria tentar dar-me uma bofetada para ela se certificar se ele tinha força suficiente na mão para escrever.
  = O Barnabé não se lavava, trazia as mãos cheias de sarro e cheirava mal, era meio demente e todos nós tinhamos nojo dele, só faltava eu autorizar que ele me fosse por a mão na cara.
    Ela professora já estava munida da tal régua com milheiros e de uma cana da Índia que eu poucos dias antes tinha ído de barco com o Fifas as roubar à Seixinha.
    Quando o Barnabé tentava levantar a mão para me dar eu ameaçava-o e ele baixava, então a professora começou a espicaçá-lo dando-lhe com a cana, ao cabo de várias ameaças da professora ela lá tentou, não com muita rapidez, porque ele sabia que aquilo depois lhe ficaria caro.
    Travei-lhe a mão e dei-lhe um soco e pus-me na alheta, ainda tive de dar outro no Manuel Papas que me tentou agarrar para eu não saltar a Janela.
     Fugi para o Vale Escuro (Monte) e pela tarde o meu Pai começou a chamar, já tinha vindo de trabalhar e começou a dizer que fazia e acontecia.
 Sabia que se fosse dormir a casa eles, Pai e Mãe iriam-me dar forte e feio.
Sabia que nem as promessas ao S. Domingos me livrariam.
      Então foi o vais. Não fui dormir a casa.
     A rendição a altas horas da madrugada deu-se depois da negociação.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

A Lousa e a Cabeça do Muge!!! Fugir da Escola

Quando as coisas até estavam a correr razoávelmente, o meu comportamento até era aceitável.
 Mas eis que o pior acontece!!!
   O Adolfo Muge de quem o meu Tio era Padrasto, resolve fazer chacota de mim, só porque ao fazer o meu sobrenome  de Gonçalves não lhe coloquei a sedilha e ela a professora começou a gozar  de Goncalves p´ra qui, Goncalves p´ra li e como se não fosse o suficiente manda-me de castigo para a carteira de trás e a ter de ensinar a fazer os deveres ao Adolfo Muge. Que era burro que nem um calhau.
  Em vez de me agradecer, não se calava com aquela música. Apesar de ele ser um ano mais velho que eu e mais corpulento, à Bulha eu acertava-lhe o passo. Mas como dizia, tanto me chateou, medi o salto para a Janela peguei na Lousa dele e parti-lha na Cabeça, quando começou aos gritos, já eu estava a saltar pela janela e a por-me no Pisga.
   Tinha antes fugido o Banito da Ti Guida e o Cerqueira que costumava advinhar estas coisas, até porque morava ali a uma trintena de metros, já tinha agarrado o Banito para o levar com ele a marcar o Campo de Futebol no Areio D Órtos. Já ía perto do Barbeiro, quando eu lá seguia em acelerado, assobiou e eu lá tive de ir ter com ele.
  Lá tivemos de seguir os três.
   Trabalhinho feito lá regressamos, já a Escola tinha fechado, até calhava bem porque o meu Pai tinha ído neste dia com o Carvão para o Porto não houve problemas.
    O dia seguinte é que se viria a dar o bom e o Bonito!!!
     Entregar o Banito foi uma atenuante. O Pior foi o Barnabé que obrigou a fuga à noite

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Os Irmãos Pintos e O Moleiro Ti Zé Maria

Juntaram-se os três à Esquina, a beberem pela Menina.
    Todos bebiam mal e de quando em vez aconteciam desta coisas.
   Os Irmãos Pintos juntaram-se com o Moleiro Ti Zé Maria  da Estibada que também lhe arrimava mal.
    Juntaram-se  na Loja do Ti  Cunha e vai de fazer uma Sussia, quando a Caneca de Cartilho ficava escorrida, mandava ser de novo lavada. Isto durou alguma horas.
  Cá fora amarrada a pobre da Égua com carga máxima  a escassos metros, lá teve de arrear " o que para ela já era um hábito" como também rebentar um saco da fornada e comer o milho .
    Já passavam das nove da noite, quando lá apareceu o Manco (Filho do Ti Zé Maria ) e depois de beberem mais duas cartilhadas foram à sua vida, segundo depois disse o Manco, o Pai teria ído no cai levanta-te, levanta-te e cai, mas lá conseguiu atravessar a Lobada e chegar a casa à Estibada.
   Os Pintos lá beberam mais um ou dois e como a Taberna se preparava para fechar lá foram saíndo e toca de colocar a conversa inacabada em dia "própria de copos"  o que levou mais algum tempo.
   Bem bebidos como estavam quando o de Quebra-Figos se despediu do de Sebolido, este tornou-lhe por resposta :- Ó Irmão nem penses em ir sózinho por aí abaixo eu vou-te acompanhar!
Mas se bem o disse, melhor o fez, e lá foram a cambaliar até à beira do Rio.
     Mas qundo estavam perto de casa e se despediram, o de Quebra- Figoso, pensou que também, não seria justo com aquele escuro, por aquele caminho ermo e áquela hora da noite deixar vir o Irmão sózinho!    Vai daí faz questão de o vir a acompanhar de novo até Sebolido.
  Neste vai e neste vem, carregando aquelas brutas pielas, já altas horas da madrugada as mulheres e filhos lá vieram à procura deles e lá os foram encontrar de novo junto à Tileira a continuarem a conversa e a teimarem para voltarem de novo a acompanharem-se de novo até Quebra-Figos.
  Coisas e casos que a memória gravou em criança e não deixa que se apaguem.
  DEPOIS O TRAQUINAS ERA-MOS NÓS.
   Filho de Burro, nunca pode dar Cavalo, pode isso sim dar um Jerico maior.  

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Férias da Páscoa e a Morte da Ovelha

Escola Comportamento razoável!!
Até aquele momento, a Escola até estava a correr de forma aceitável, apesar de já por umas três ou quatro vezes ter havido a necessidade de dar o salto para ir marcar o campo da bola ao Areio D´Ortes, e a teimosia da professora em exigir que aqueles que ela classifica de bons têm mesmo que serem muito bons e os outros coitadinhos estão sempre desculpados.
Férias da Páscoa
   Serviram para concretizar uma ameaça que já tinha sido várias vezes  feita.
   Era uma grande Ovelha, mas pior que uma Cabra a pastar, as Ovelhas normalmente pastam a eito, enquanto que as cabras comem as cabeças do pasto e sempre a andar.
   As Cabras  do Serralheiro e do Cerqueira calcarreavam quilómetros o que era uma carga de trabalhos para as apanhar e trazer de volta, agora que já havia uns cigarritos, mais os rebuçados, lá andavamos nós todos entusiasmados, mas a forma de eles pagavam o que prometiam era cruel.
Quando voltava-mos obrigavam-nos a puxar o Cigarro, travar o fumo e depois tapavam-nos a boca e por vezes até ficavamos roxos e sem ar. Mas depois lá nos davam um ou mais cigarros, Definitivo ou Provisório, por vezes lá vinha uns três vintes.No outro dia já tinhamos esquecido as patifarias e lá voltavamos ao mesmo. As férias também serviam para isso.
A Ovelha para complicar as coisas raramente andava por perto das Cabras.
A morte da Ovelha
Um dia eu pedi ao Albano Pombas se me ajudava a levá-la para uma Fragas e depois a empurrá-la de lá abaixo. Claro que a adesão dele foi imediata.
   Deveria ser uma altura apróximada de 40 metros. Foi dito e feito, o pior era depois convencer o meu Pai.
   Ensaiamos como seria e assim aconteceu:
   O meu Pai estava em casa, tinha uma jura sagrada. Desde que ele jurasse pela Alma do Avô dele não me batia.
   Depois de a termos deitado abaixo o Pombas que tinha umas goelas que se ouvia berrar a quilómetros lá começou com a berraria.
   Eu gritava ai a Minha Rica Ovelhinha que morreu. Vou-me matar
  Gritava o Pombas :- Aquilo de Rei, Aquilo de Rei. Ai que eu já não posso com ele.
   A mãe do Pombas ouviu e perguntou desesperada, o que era ele respondeu-lhe o Fanuca quer-se atirar das Fragas abiaxo com medo do Pai.
   A Ti Teresa chama pela minha Mãe e responde ela e o meu Pai.
   Ao ouvir eu dizer que me ía atirar das Fragas abaixo. Porque ele me ía matar à porrada e eu sem culpa nenhuma respondeu:- Ó meu rico filho eu não te bato.
 Então disse-lhe por duas vezes para ele jurar por alma do Avô dele.
 Jurou e eu disse-lhe que se ele me bate-se me atiraria depois.
Era o atiravas.
Durante uma semana foi tirar a barriga de misérias a comer a Ovelha, era carne a toda a hora.
Verdade que ele mais uma vez respeitou a jura.
O Barnabé e o Adolfo obrigado a dormir no Lagar do Guerra

domingo, 12 de dezembro de 2010

A Minha Homenagem à Ti Teresa Pombas

                 Só se morre, quando deixamos de estar no coração de alguém.    
  Não a que desejaria mas a possivel.
    Esta grande Senhora com um enorme coração, foi durante os meus primeiros vinte anos uma referência e aquela que muito acompanhou a minha vida de Criança.
   Sempre tive por ela um carinho enorme.
   As consequências da vida, não foram muito favoráveis, para que nestes últimos anos eu tivesse uma vivência como desejaria e ela mereceria, mas por razões que me são alheias, tive de optar por este procedimento.
  Parava várias vezes a conversar com ela, e ela lamentava-se por coisas que ela considerava serem de uma tremenda injustiça, e que julgava não merecer, mas ao que me era dado saber, ela teria sido mal aconselhada e deixou-se arrastar e tomou posições que não devia, daí que tivesse ocasionado divergências entre filhos.
 Quando somos amigos de uns e outros não podemos nem devemos estar a tomar posições que não sabemos se estarão a ser correctas ou não. Correndo o risco de estarmos a ser injustos e virmos a ganhar inimizadas indevidas.
       Uma péssima notícia.
        Hoje quando encontrei um dos seus filhos ele informou-me que ela foi internada à dois dias no Hospital de Penafiel e que se encontra em coma profunda, que  segundo os médicos dali, não há a esperar mais nada.
     Livrou-me muitas vezes de apanhar grandes tareias, chegando mesmo a encobrir malandrisses e sacanisses que eu e os seus dois filhos praticavamos, e ela, sempre deitava água na fervura.
    Quando a minha Mãe se lamentava com ela a respeito de mim, ela sempre lhe tornava como resposta :- Não os podemos matar, eles são nossos filhos, e os meus não são melhores.
  Verdade que quer o Albano, quer o António não eram muito melhores que eu.
Também era dois bons tratantes, embora por vezes traiçoeiros, participavam e depois vinham descobrir e jurar a pés juntos que não tinham estados envolvidos.
  Costuma dizer-se que enquanto à vida à esperança, mas ao que parece, a Ti Teresa nos seus noventa e dois anos certamente não terá muitas defesas, o que levará a que as esperanças sejam muitissimo poucas.
   Deixa este mundo, seguramente descansada e sem remorsos. Ciente do dever cumprido, esta senhora criou uma filha do homem, que quando casou com ela era viúvo e foi ainda Mãe de mais seis filhos e soube   dar-lhes a todos uma educação que lhe permitiu, a que eles podessem viver a vida com toda a dignidade.
   Que saudades do tempo dos meus primeiros anos, quando eu pescava com ela na rede do Sável e da Lampreia.
    Quando se verificar a sua  partida física vai deixar em mim e em todos os que com ela conviveram um enorme vazio, e Cancelos, não ficará pobre, mas sim  ficará muito mais pobre, pois  perde uma Senhora que foi uma referência para este pitoresco Lugar.
   Obrigada por tudo Ti Teresa.
  Entrada para a Escola e a morte da Ovelha

sábado, 11 de dezembro de 2010

O Tempo passa

Havia rumores que a nova professora estava prestes a chegar e que a Escola brevemente iria começar.
Havia entre nós já uma certa saudade de recomeçar e taambém a curiosidade  de se conhecer o novo tipo de professora.
  Um pequeno intervalo para recordar este tempo passado.

  O tempo passa? Não passa no abismo do coração.
  Lá dentro perdura e graça
  do amor, florindo em coração.

  O tempo nos aproxima
cada vez mais, nos reduz
a um só verso e uma rima
de mão e olhos na luz.


Não há tempo consumido
nem tempo a economizar.
O tempo é todo vestido
de amor e tempo de amar.

Será também uma maneira simples de um pequeno interregno nas histórias da minha vida de criança.



  

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

A Escola, As Uvas, As Perdizes e a Ída à Bruxa

A Escola, os Pais, Avós e Professoras/es
Era um procedimento diremos que  normal a colocação de uma nova professora, acontecer com um ou dois meses atrazadas.
Ninguém se lamentava, ao contrário de hoje, o que dá é dizer mal dos professores e assim uma grande maioria sacode a água do capote e tenta livrar-se daquilo que deveria ser a sua inteira responsabilidade, preferem antes levar os meninos e trazê-los depois pela mãozinha, que é uma forma hábil de se mostrarem na montra da vaidade. As crianças essas é que nada ficam a ganhar com este exibicionismo.
Muitos casos que as professora marcam-lhe os deveres para casa, vão para o Infantário e no outro dia, esses mesmos deveres voltam como saíram da Escola.

O Roubo da Fruta (e  a táctica de calar o cão)
Com este atrazo tudo corria de feição, era o ideal para irmos roubar as uvas e maças à quinta da Moira e a nossa perspicássia era tal, que mesmo rastejando entre galinhas faziamo-lo com tal silêncio que nem esboaçavam e assim podiamos roubar as uvas à vontade.
 Já que no que respeita a um Diospireiro que ficava junto à casa e a Manca a Constância, só quando conseguíamos roubar um bocado de toucinho e  lhe o atirava-mos lá para dentro, já não havia cão a ladrar,  e aí dava para trazer os que quizessemos, mas nunca carregavamos grandes quantidades para não espantar a caça.
     ´´E evidente que nem sempre eramos bem sucedidos, vezes houve até que para não vir a guarda o Pai Nente, paga depois quando houvesse Lampreias.

Atirar Pedras para levantar Perdizes para os caçadores
    Vinham até ali vários caçadores que já nesse tempo usavam armas altamente sofisticadas inclusivé as de cinco tiros. Eram caçadores normalmente tais como Advogados, Doutores, Ricalhaços etc.
 Na minha Aldeia havia muitas perdizes que se metiam nos buracos das Fragas, onde os Cães não tinham a miníma hipótese de a esses locais  terem acesso.
Eramos pagos para atirar Pedras.  
    A única forma de as fazerem levantar, era irmos pela parte de cima, atirar-mos pedras e assim elas levantavam, eles cá debaixo da Estrada então atiravam sobre elas.
      Para fazer-mos esse serviço eles tinham de nos pagar e não tinhamos razão de queixa, pois quando a caçada era boa, chegavamos a juntar aos vinte escudos.
    Não fosse os nossos vícios e esse dinheirinho fazia um jeito enorme aos nossos Pais, mas o vício pela compra de rebuçados para termos jogadores para encher cadernetas e já com essa idade comprar uns cigarritos que passavam por ser ou para o Avô ou para o Pai, o dinheiro lá voava. Mesmo também, porque o Serralheiro e o Cerqueira, estavam sempre atentos e, o jogo ao montinho ajudava a que eles nos levassem o resto. Tinhamos fde calar o Bico, de contrário chovia de duas maneiras.
O rapaz só pode trazer o mafarrico dentro dele!!!
A  Tua Irmã vem cá;  à Bruxa.
   Uma Tia minha que vivia no Porto e o meu Tio que trabalhava no Hospital de Santo António, tinha a sua Mãe que praticava bruxaria, então se melhor o pensaram, melhor o fizeram, vai daí toca ir até Ermesinde a fim de eu ser consultado pela Bruxa, mas antes e como era Sogra da minha Tia, preparou lá uns ovos estrelados, uma batatas fritas, com  cebolada, acompanhada de uma boa malga de caldo.
Foi para mim um verdadeiro dia de festa.
Acabado o bom repasto, ela lá foi preparar a cena, logo com uma recomendação se eu e o meu Primo (seu Neto) "mais velho que eu um ano" nos rissemos, deitavamos tudo a perder.
      Depois de o cenário, umas velas e uma estátua muito feia, tudo fechado e ela começa lá com as rezas,  a infulipar muito, genero de roncos (gritos), eu e o meu Primo mijavamo-nos de riso em constantes  gargalhadas, foi um espectáculo interessante.
     Lá acabou, tinha descoberto, que o culpado de todas as minhas asneiras, era o bisavô do meu Pai que me aparecia segundo ela lá num Ribeiro que eu  tinha de lá passar para ir para minha casa.
     Lá com o responso que o tinha escomungado e a partir daí eu ficaria um bom rapaz.
      É O FICAS!!!
                        É o melhoras!!!     
     Não melhorei coisa nenhuma, ainda lá voltei mais uma vez, mas desta feita com a minha Mãe. 
Repetiu-se o cenário,ainda com mais aparato,  mas desta vez já sou houve uma malga de sopa e um naco de broa. Pois se continuasse o tacho como no primeiro dia até eu fazia uma forcita para lá voltar.
        Estava no Sangue, o Puto não tinha emenda. 
        Não havia Bruxa que lhe podesse escurraçar o espirito maligno.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

A Carteira do Ti Luis Guerra. Quando a sorte não penetra!!!

A Carteira Perdida!  VINHA MESMO A CALHAR!!!
     Como referênciei na história anterior, os meus Pais tinham entregue o Cordão ao padre Queiróz da Raiva, para o levantarem eram necessários os tais mil escudos, naquele tempo um pequena fortuna para uns pobretanas como nós e numa altura que o Rio já não dava quase nada.
     Num belo dia 4 de Agosto, a data fixa em que se comemora a Festa do S. Domingos da Queimada, hoje vulgarmente chamado de S. Domingos da Serra, quando vou pelo caminho de cima, olho para o outro que passa por baixo e vejo uma carteira. Uma corrida e já cá cantava, abro a bolsa dos trocos e lá estavam umas tantas moedas, saco uma de vinte e cinco tostões, vou abrindo o resto e vejo que ela tem muitas notas de cem e uma três de quinhentos escudos e uma de mil, isto vinha mesmo a calhar, mas de repente reparo que nos dois recortes que elas tinham para colocar fotografias, lá tinha uma do Ti Luis Guerra, um solteirão que trabalhava os terrenos pegados aos nossos, mas que não dava uma sede de água a ninguém.
   Indiferente a isso, escondi a carteira com o dinheiro e lá fui chamar o Fifas para irmos comprar rebuçados.
   Sabíamos de que se fossemos à Loja do Ti Mário Barrigudo ele logo descobria, mas não, viemos a Sebolido ao ti Vitorino e como meninos poupadinhos, apenas compramos um escudo deles, convinha não deixar pistas.
Mas tanto ao azar, que o Guerra ao chegar ao Areio Dórtos, para atravessar na passagem, vai para pagar a viagem e carteira de grilo.
    Volta para trás e então sabia que era ali que tinha puxado por ela e em vez de a enfiar no bolso traseiro ela caíu-lhe.
       Chamaram-nos e em principio negamos, mas depois eles disseram que tinhamos corado e como tal sabíamos onde ela estava.
      Lá fui caçado na ratada. Os dez tostões já tinham voado em rebuçados, e o quinze de troco quando me fizeram a revista foi a descoberta.
      Cabeça não tem juizo. Corpo paga. Mas os rebuçados esses já tinham voado.
      Enquanto isso nem tudo era mau, porque a nova professora tardava em aparecer, o que mais tempo nos dava para a vadiagem e o seguimento das nossas aventuras, onde tinhamos todos o tempo do mundo.
  As Perdizes., as Uvas da Quinta da Moira e a ída á Bruxa

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

O Roubo do Cordão e o Anel " Jóia da Minha Mãe".

Há tanto ladrão dito sério,                                                       
Tanto sério que é ladrão.
Porquê os mitos do mistério
Protege tanto charlatão?

Maré baixa, Maré sobe,
Mas que grande confusão.
Porquê? Só o Zé-Pagode
Ou paga, ou vai p´ra Prisão!!!
Quem Roubou o Cordão?
O Cordão e o anel para a minha Mãe  era uma jóia de valor incalculável e seguramente que jamais e em condições algumas se iria desfazer dele.
   Não sabia ao certo quantos familiares seus já o tinham usado, certo que já vinha de algumas gerações.
   Claro que com crianças pequenas não era fácil ter sempre as portas fechadas, apeenas havia em nossa casa uma Mala de Madeira e uma Arca, a roupa cabia ali perfeitamente, já que a maioria das peças eram remendadadas e poucas mudas para cada um.
   A minha  Mãe escondia no fundo da mala alguns tostões que houvesse e de quando em vez dava falta de algum, mas sempre atribuiu a culpa ou a mim, ou ao meu Pai, e que veio a confirmar-se pagavamos injustamente.
  Escondia o Cordão e o Anel por trás  numa das prateleirritas que haviam na Cozinha e apenas só ela e o meu Irmão sabiam disso, nem o meu próprio Pai.
   Ela com medo de que lhe podesse acontecer alguma coisa de mal, e o meu Irmão a seguir a mim, mais novos dois anos, mas que sempre foi o menino das suas confidências.
O Responso, a ída à Bruxa e Bruxo e a Promessa. 
Os objectos desapareceram e logo de Imediato, recorreram a uma habilidosa que fazia de bruxa  a Ti Serralheira,e que depois das rezas lhe disse que eles não tinham atravessado água, o mesmo era dizer que não tinham atravessado o Rio e que quem teria roubado era do lado de cá.
  Como não aparecia, indicaram ao meu Pai, um Senhor que tinha sido Pároco e que ao ficar invisual optou por fazer essas rezass (Responsos) que vivia em Valongo de nome Abel ), que repetiu o que a Serralheira tinha dito, mas sem fazer o milagre de o ladrão ou ladra aparecerem.
  Começaram a correr Boatos que o meu Pai o teria vendido para  gastar o dinheiro na putaria, chegando mesmo um a dizer-lhe cara a cara, o que só não teve consequências imprevisiveis, porque a arma do meu Pai que era de carregar pela boca encravou.
A Oferta da Promessa e a esperteza do Padre
Face a esta situação a minha Mãe que era uma grande devota do Divino Santíssimo Sacramento da Igreja Matriz da Freguesia  da Raiva, ofereceu que caso o Cordão e o Anel aparecessem ofertaria mil escudos.
  Passados uns tempos veio a descobrir-se que quem tinha roubado era uma Sobrinha do meu Pai "que tinha sido criada com ele" de nome Ana e aquela em quem o meu Pai e a minha Mãe metiam as mãos e cabeça na Fogueira em defesa da sua honra, tal a confiança que depositavam nela.
 Então tal a fome e porrada que o homem lhe dava, que com três filhos de berço, não resistiu em roubar e vender os objectos e roubar ainda uma aliança e roupas a uma vizinha de nome Climência e que um dia distraídamente as colocou a secar. Foi a pista para a descoberta e confissão.
Ela até usava a táctica de mostrar o anel à Clemência que tinha roubado à minha Mãe e mostrava a aliança que tinha roubado à Clemência à minha Mãe como prova da sua inocência.
    O homem da minha Prima Ana, comprometeu-se a pagar os mil escudos,"prtoometidfos à Igreja, mas é o pagas e com quem?"" logo que tivesse dinheiro e levou a que os meus Pais não tomassem qualquer atitude sobre ela e até a desculparam, por tanto gostarem dela e muito lhe valeram até à hora da morte, já que infelizmente morreu muito nova, "de porrada e fome teve um farturinha".
     Como não tinham dinheiro para pagar na ocasião na Igreja da Raiva, dirigiram-se ao Padre e sua equipa e contaram-lhe o sucedido e que  como a minha Mãe fazia questão que assim fosse deixaram o Cordão como penhora da promessa e que logo que tivessem o dinheiro lá o levariam e trariam o Cordão.
    Tudo acertado e de comum acordo. Mas!!!
     Quando passado uns meses o meu pai se lhes dirigiu para dar-lhes o prometido e levantar o Cordão já tinham passado o mesmo a patacos e alegaram que o tinham entregado a um ourives para  avaliar e que ele valia, e que ele se sumiu sem deixar rasto.
  Só que a verdade era bem diferente, porque o cordão valia vários mil escudos.
  Assim em nome dopatrão dele, o Padre Queirós e seus comparsas,fizeram o seu negócio, auferiram o lucro indevido, e a minha Mãe ficou sem aquilo que lhe pertencia e que tanto sofreu.
  Se houver outro lugar onde se tenha de pagar e se acaso o responsável pela penitência não teve conhecimento deste grave pecado, espero que agora ao ter conhecimento, e se o caso ainda não precreveu, ou então que reabram o processo, mas que eles venham a pagar por essa malvadez e uso indevido de haveres que não lhes pertenciam.
  Seguem-se : - 
 A carteira do Ti Luis Guerra em Dia de S. Domingos e as Perdizes, e a minha Ída à Bruxa..

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

O Cordão da Minha Mãe = (A Herança e o Roubo)

O Cordão e a tradição.
     Usava-se naquele tempo e ainda hoje em muitos casos isso acontece, de as Mães prometerem  o Cordão a uma das Filhas, que em muitos casos, vem sendo deixado por prometimento de Mãe para filha  em muitos casos já conta com  várias gerações, que até  nem se sabia quando e quem tinha comprado ou usado pela primeira vez essas preciosidades ( o Cordão e o Anel).
  Lutar e Vencer.
    Tinha a minha Mãe uns escassos quatro anos, quando o seu Pai ( meu Avô materno) morreu e deixado uma grande quantidade de filhos, ao todo (cinco), ainda todos muito novos.
   O meu avô dispunha de uns bens, casa prória e alguns terrenos e sortes (tapadas no monte), era proprietário de um Rabão e negociava em Carvão e outro tipo de madeiras para as Padarias que transportava para a cidade do Porto, onde eram vendidas.
    Com a ajuda da minha Tia mais velha a Olivinha, que como se dizia na altura era uma Maria Rapaz, foram enfrentando todas as dificuldades da vida árdua, conservando todos os haveres que o meu avô tinha deixado ficar (para isso trabalhando dia e noite, principalmente no tempo em que o Rio o permitia, ora não era possivel pelas cheias, outras ainda, porque nos meses de Setembro até Fevereiro o Rio Douro não dava para pescar peixe.
 O Cordão e o Anel prometido.
   A minha Avó Mãe Chica, antes de falecer prometeu o Cordão à minha Mãe, na ocasião a minha Tia Olivinha foi a Paiva ao Ourives e avaliaram o seu valor.
   Ficou prometido que entraria nos descontos da herança.
   Dois periodos  houve, que por doênça de meu Pai, uma vez de sete meses, quando eu tinha cerca de dois anos de idade, e mais tarde de 9 meses quando eu tinha cerca de oito anos, não havia Caixa de Previdência e como tal o meu Pai não auferia um cêntavo de rendimento, viviamos com as migalhas que a minha Mãe ía granjeando com a lenha da Serra (Carqueja e Queiró e depois com o rendimento da ganho com a  Rede (Varga) do pescado  Sável e Lampreia.), seguramente que houvesse, o que houvesse, o Cordão e o Anel jamais seriam vendidos.
     O citado Cordão e Anel, eles representavam objectos divínos.
O  Esconderijo!!!
A minha  Mãe tinha esconderijos que só ela e o meu Irmão Joaquim "chegado a mim" conheciam, com medo que não fosse o Diabo tecê-las e alguém ao vê-lo não resistir à tentação de o roubar, ou mesmo os meus Irmãos pegarem nele e o levar por exemplo: e até o deixar caír ao Rio etc.
    Mas costuma dizer-se que os Ladrões são como os Cães "Tem  Faro" , cheira-lhes e assim torna-se-lhes fácil descobrir  onde se encontram escondidos os objectos de grande valor!!!
     Roubaram o Cordão!!! Quem foi?
      Segue no próximo capitulo

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Uma Informação Para o mui Generoso Pai Natal

 
Pedido ao Pai Natal.
Com muito amor e carinho e admiração pela coragem de não desanimares perante as intempérides
Mui querido e Genroso Pai Natal:
     -Desde que me conheço, sempre acreditei em ti. Muito mais ainda, quando acredito que todos nós pessoas de bem temos dentro de nós durante todo o ano, fruto daquilo que nos deixas uma vez em cada  quadra Natalícia.
   Como sabes tenho vindo aqui a desenvolver a minha vida de criança e apesar de ainda não ter concluído os oito anos de idade, já me sinto muito honrado e feliz pelo tempo que os meus amigos têm dispêndido para poderem apreciar esse meu passado.
Hoje interrompo essa série para dar lugar aos pedidos que aproveito para fazer, já que estará na altura ideal.
   Sei que a tua tarefa em convencer as minhas três renas cá de casa não vai ser fácil, mas acredito que irás conseguir que elas cobalorem contigo de forma a satisfazeres estes meus pedidos.
    Elas alegam que pelo terceiro ano consecutivo continuo a pedir uma máquina fotográfica, mas Pai Natal:- a de há dois anos caíu ao Rio e deu o berro, a deste ano bateu em qualquer lado e aquela cena de focagem deu o berro e o concerto, sem a garantia der que ficaria a cem por cento era o preço quase de uma nova.
 Que dizer da minha velha grafenola, para e durante as minhas caminhadas, ouvir o meu programa de fados na Rádio Arouca, ou na Festival e de quando em ´vez o Augusto Canário e o Quim Barreiros.
  Que raio Pai Natal com o frio que se faz sentir não será que se justifica o pedido de uma camisolinha de gola alta e um blusão e umas calças de ganga.
   Mui querido e Generoso: ousa dizer-se na minha terra que até ao lavar dos cestos é vindima e acreditando vou colocar aqui o meu sapatinho em Nogueira da Regedoura e Cancelos Sebolido na Lareira e Trapeira lá em cima, e a Chaminé aqui em Nogueira ficam abertos.
 O meu reconheciemnto e fico a aguardar,
 Um Natal prosperos para todos os outros e se poderes bafeja-os com muito amor e compaixão para partilhar com o próximo e deixa um pouco para mim também.
 Quero agradecer-te o ano maravilhoso que me tens proporcionado neste ano de 2010.
Manda um leãozinho para todos para ele não se perder nos próximos anos, (incluíndo para mim se não te importares.)
Não é fácil.

Nunca desvalorizes ninguém

Guarda cada pessoa perto do teu coração

domingo, 5 de dezembro de 2010

O meu Jolim = Filho de Cadela e de Raposo

Filho da Menda e de Raposo.
Apesar de alguns veterinários dizerem que tal não é possivel esse acasalamento por o código genético ser diferente, certo que não conheço estudo que permitam que tal não é possivel.
Um fraco Caçador.
O meu Pai era um fraco atirador e passava um ano de caça, matando 2 ou 3 dezenas de Coelhos, que naquele tempo abundavam nos montes da minha aldeia.
Tudo o que era cão e ele encontra-se abandonado logo trazia para casa, na tentativa de encontrar algum que fosse razoável para a caça.
  UM Cão Raivoso que Mordeu a Rosa do Jigueiro
A Rosa do Jigueiro, foi mordida por um cão vádio que ali apareceu pelo lugar e não fosse o meu Pai ter intercedido de imediato junto do meu Tio Joaquim que trabalhava de carpinteiro na  feitura de Caixões no Hospital de Santo António no Porto e a Rosa tinha-se ído.
Valeu-lhe o rápido internamento e pronta assistência, e ela assim sobreviveu.
     Mas perante este caso confirmado de Raiva a Venatória foi a Cancelos/Sebolido, e obrigou que todos os Cães e Gatos fossem abatidos, porque poderiam estar contagiados "isto é terem sido mordidos pelo respectivo cão, "que por ignorância, tinha sido abatido pelos populares." (Pois o animal deve ser guardado para que se se confirmar a Raiva e o Animal ser testado também. A forma mais eficaz para a cura.)
( Mais tarde passei por isso e contarei o caso no Blogue Moçambique)
  Nada melhor para nós os Putos que logo ali encontramos uma boa fonte de rendimento. Passamos a levar 1$00 por cada Cão que afogassemos e 2$50 pelos gatos, quando fossemos nós a os apanhar, já que uma boa parte deles eram meios vadios.  Quando depois veio o Verão e o Caudal do Rio baixou não faltavam por lá abaixo cães amarrados às cordas e pendulhos (pedra).
 Realizamos uma boa maquia e rebuçados dos tais dos jogadores de futebol eram mais que muitos.
As  Cadelas  Lira e Menda
Face ao a cima exposto o meu Pai encontrou duas Cadelas vádias a Lira, uma cadela amarela magríssima e a Menda  de cor parda, uma Cadela que tinha sido abandonada pelos Ciganos.
 Ambas eram meigas, sendo que a Menda era muito mais Meiga que a Lira, que para a Caça era muito melhor.
 Ambas tiveram Cães com diferença de dois dias, tendo a Lira oito e a Menda 9, enquanto isto o meu Pai arrastou para casa mais um Cão que lhe deram " e que se como viria a provar mai um que era bom para comer) e então disse para matar a Menda e os restantes cães, deixando uns três ou quatro.
    Como gostava muito dos Cães da Menda, escolhi três e aproveitando a ausência da Lira os misturei com os dela, retirando-lhe de lá outros três.
     Ela aceitou-os e assim deitei os outros ao rio, que ainda com os olhos fechados não resistiram muito tempo até afogarem-se.
     Já quanto à Menda, foi por afogamento, com a corda e pendulho, por incrível, a pedra soltou-se duas vezes e a bicha, eu chamava por ela e ela vinha ter comigo, era eu e o Fifas,à terceira foi de vez. Custou-me imenso e isso foi feito debaixo da minha porta, onde o rio era fundo e ainda hoje quando olho para lá me lembro do animal, que até gostava dela, mas tinha de ser. Hoje sou incapaz de fazer mal a um cão ou a um gato, e talvez por isso tenha de manter uma série deles bravos que andam cá por casa.
Dois Cães e uma Cadela
Desses dois Cães que separei e uma Cadela, dois foram dados um para o Wilson de Rio Mau, que com escassos seis meses, quando lhe ofereceram meia dúzia de coroas o vendeu e já era um às na pegada do Coelho, mas que pouco depois um caçador a atirar a um Coelho o matou, a Cadelita que morreu de Doênça e o meu Querido Jolim.
 O meu Pai num péssimo dia,  entrando para dentro do barco de passagem na  pedra trinta, onde o barqueiro era o Tono Monteiro, manda-o embora "tinha o animal  três meses", como não obedeceu, mete a arma de carregar pela boca à cara e dispara um tiro sobre o pobre indefeso. Logo de seguida disse para o Tono que antes queria perder mil escudos " como se haveria de importar de os perder se não os tinha" de que fazer o que fez e desatou a chorar de arrependimento.
  Quando o Tono voltou o Cãozito já não parava ali.
  A distãncia onde isto aconteceu até minha casa distava uns três mil metros.
  Já ninguém contava com o animal, quando ele passados uns doze dias nos aparece no fundo das escadas, encontrado pelo Ti Luis Guerra que chama por mim e lá fomos tratar do meu Jolim. "Nome também que lhe foi posto por mim". Estava inchadíssimo, todo crivado de chumbos. Fizemos uma barrela (cinza do forno ou lareira e misturado com água) e lhe tiramos grão a grão, servindo a Cinza para lhe esfregar que servia de desinfectante. Resultou e fazia-mos esses tratamentos várias vezes ao dia até que o Jolim recuperou.
O Cão tinha muitos traços de raposo e a partir dos sete meses já era um às a caçar Coelhos à boca e a os mandar para a cara do Caçador, o meu Pai de o pior caçador, passou a ser o campeão, mas com grande avanço e a partir daqui e nos quatro anos seguintes e até o matarem por envenenamento a média de Coelhos que o meu Pai trazia para casa anos, houve que chegou aos duzentos.
     Era  perfeito em tudo, desde amoroso, a vigilante e sabia proteger os meus irmão quando se apróximavam da beira dos muros ou do Rio. Muito lhe ensinamos , mas muito mais foi por intuição dele.
   Fizemos-lhe um Funeral digno e irá para sempre perpetuar nas nossas memórias.
   O Meu Jolim era e é, o Meu Rapozinho.Quando se ama não se esquece, o amor fortalece-se
O Cordão vai aparecer e as Bruxas também.

sábado, 4 de dezembro de 2010

O Meu reconhecimento e conclusões

O meu reconhecimento.
Seria desilegante e falta de humildade da minha parte não agradecer aos amigos que com os seus comentários, bem como a todos aqueles que diáriamente o consultam, não lhes reconhecer o importante contributo que têm dado.
   Sem vocês, seguramente não me seria possivel escrever aqui todo um passado, que a cima de tudo pretendo que sirva como incentivo a quem o lêr que perceba que hoje os tempos são outros tempos e que muitas dos acontecimentos naquele tempo hoje não se devam repetir.
MORTE DE UM IRMÃO E O MEU CÃO JOLIM
Neste período tinha falecido um Irmão meu, a quem foi dado o nome de Esmael,tinha treze meses de idade. Tempos depois mataram-nos um cão que foi a coisa melhor que já algum dia houve na Freguesia de Sebolido e arredores, tendo o meu pai recusado uma oferta de 4.000$00 de uns Senhores Doutores Caçadores de Avintes. Um Tio meu que não tinha coragem de ver matar o porco ou uma galinha e saía de casa quando se matavam um ou outro, aborreceu-se com o meu Pai e disse-lhe que havia de matar o pobre animal. Pouco tempo depois da ameaça, o Jolim foi envenenado e o meu Tio esteve quase para pagar as favas e ter o mesmo destino do Cão, porque não teve a coragem de dizer que não tinha sido ele que o envenenou. O meu Pai morreu e convencido que tinha sido ele o meu Tio Simão o assassino. Mas muito recentemente vim a saber pelo próprio filho " O Tono Pombas" que o assassino tinha sido o seu Pai o Ti Zé das Pombas que para matar os Gatos arranjou bolas de Estraquelina e as espalhou e o cão foi envenenado com elas.
 Churamos quando o meu Irmão morreu, mas muito mais choramos, quando nos envenenaram o Jolim .
 Fizemos-lhe um Funeral digno, uma sepultura como se faz aos humanos e todas as semanas lá metía-mos uma flor e um Irmão chegado a mim plantou lá um pinheiro onde se conservou muitos anos.
  Mais tarde quando vim a conhecer o cemitério dos Cães em Lisboa, recordava ali o meu querido Jolim e até hoje os Cães que a familia vão tendo em homenagem a eles todos lhe dão o nome de Jolim.
   Já tive muitos Cães e tenho um, mas jamais algum ocupou o lugar dele, ou o fez esquecer.
    Coisa rara, ou talvez única. Em média; permitia ao meu Pai que era um fraco atirador, matar entre 140 a duzentos Coelhos ano, sendo que o Jolim à sua parte caçava metade, sempre que quizessemos um Coelho, bastava levar um Pau e com uma paulada no Coelho que estivesse na cama, ou que o Jolim o caça-se com a boca, normalmente não vinhamos de mão a abanar.
Isto criou tal mau estar no Ti  Pombas e Ti Luis Guerra, no Ti Másrio Barrigudo etc. etc. que optaram pelo furão, mesmo que fosse probída a sua utilização.
Pois é Ti Zé Pombas, isso nunca deveria ter sido feito a um pobre animal indefeso e que tantos Coelhos lhe tinha proporcionado graças a ele você os ter morto e comido.
     Mas a crueldade e a inveja!!!
A abertura da estrada, proporcionou-nos um campo de futebol.
Na Própria Estrada, e também a vinda das multas de vinte e croa
 A abertura da estrada, deu-nos um novo campo de futebol, que ali mesmo, a uns cinquenta metros da Escola fosse críado o novo Campo de Futebol, pois ali havia uma recta de uns trinta a quarenta metros, onde após uma curva, a escassos metros, permitia ao Cantoneiro "que entretanto ali foi colocado" nos caçar com a boca na botija  "bola a circular", muitas vezes nem nos apercebíamos dele, tal era a garra com que se disputava a partida, claro que fazia parte do jogo a Canelada e a bulha (Porrada). Apesar de ele ter dois filhos que também jogavam, o mesmo acontecendo com os dois filhos do Cabo de Ordens, o Cantoneiro não perdoava, e as participações ao Chefe que vivia em Rio Mau e depois o escritório passou para  Entre-os- Rios, onde nos tinhamos de deslocar para sermos interrogados. Muitas vezes valia as nossas  juras a pés juntos que os Filhos do Cantoneiro ou do Cabo de ordens também lá andavam,outras vezes o Cabo de Ordens "o Ti Afonso, lá nos ía safar" mas isso não impedia que de quando em vez lá tivessemos os nossos Pais de pagar a tal multa de vinte e croa 20$50. Mas a verdade é que muitas vezes os filhos do Cantoneiro andavam lá e ele fingia não os ver.
 Os nossos Pais tinham de pagar. A nossa forma de lhes pagar "a eles Pais" era sempre a mesma. Com o nosso Corpo.
O meu primeiro S. João do Porto.
Apesar de noutras ocasiões aqui ter vindo ao Porto, fosse de barco, com o meu avó, para apanhar bicha do mar para a pesca. Com o meu Pai para ver um jogo de futebol, já que ele meu Pai era portista de cartão ou ainda uma vez com a minha Tia, a tal que mandava muita roupa para eu lhe tirar os botões para a Pincha, foi então a primeira vez que vim ao S. João.
     Quando o meu Primo lhes disse lá a dois pistolas que eu era da aldeia, encheram-se de vontade e armdos em meninos rúfias da cidade, vá de começar a malhar com o tal martelo. Estavam longe de imaginar o que lhes estava reservado "e o meu primo Luis segundo me disse depois" fez isso de propósito. Deram-me duas ou três marteladas e começaram a gozar, até que me pegou os pirolitos e como estava treinado da aldeia aqueci-lhes o lombo aos dois.
 Depois quando lá ía aos Guindais tinham respeitinho pelo puto, dizia eles: que eu era da aldeia mas que não era bom de assuar. Como poderia ser? Não era nem podia ser, depois de tantos treinos.
Próximo relato.
Atirara pedras às Perdizes. O Roubo do cordão da minha Mãe. A minha ída à brucha

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Um Ano em Criança Traquina, é muito tempo.

   
   Novas actividades.
    Se a idade pode parecer muito pouca, a verdade é que as coisas aconteciam de forma a que os nossos desafios superassem a própria idade.
   Como em outro blogue referi: o termos como apenas seis anos de idade, ter ído roubar dois cravos, duas abôboras e uns tantos pessegos valeu para que essa Beata Solteirona  e Catequista Ti Maria Zé nos tivesse chamado a GNR. A mãe do outro, que contava cerca de nove anos, decidiu não pagar, a minha como pagou logo, teve de pagar 25 $50 e a Ti Micas  do Pedro 30$50, dava naquele tempo para florir o rio Douro todo.
 O leite da Figueira brava, o tirar das linhas do carrinho das mães remendar a roupa,o atarvessar o Douro a nado, para um e outro lado, o pescar à loca ( Era mergulhar e meter a mão nos buracos que havia nas pedras e onde o peixe se metia.)
 Também já outras duas actividades começavam a ser desempenhadas, roubar a Peneira ou o Crivo para apanhar a Loura (enguia pequenina)  e que se comiam, quando não havia azeite, coziam-se e com uma côdea de brôa por vez cheia de bolôr, já dava para matar a fome e andar todo o dia na boa vai ela.
     Cabo de Ordens, Professor, Padre e Catequista.
  Começa de novo a Escola para a segunda classe e com ela o Cabo de Ordens que era  Sapateiro e a quem os nossos Pais lhes pediam para nos tentar meter na linha, entrava também um novo,  uma nova Professora, um novo Padre e o ter de aturar a peste da Catequista, que desde sempre nos fazia a vida negra..
        Adivinhava-se um ano tremendamente difícil, enquanto decorriam as férias, o Cerqueira e o Serralheiro, cada vez se tornavam mais exigentes e agressivos.
        Também já as exigências eram maiores a nivel caseiro. Se de manhã tinha de ficar a olhar pelos meus Irmãos, enquanto a minha Mãe que saía de casa por volta das cinco da manhã para ir à lenha da Serra, carregando Carqueja que trazia à cabeça e  feita em Botenos (molhinhos pequenos) que carregava cerca de cem, e que, depois vendia por  2$50, para os donos dos Rabões (Barcos grandes de Carga, feitos de madeira) e que era transportado para o Porto, onde ali era vendido para as Padarias.
   Depois da parte da tarde lá íamos os miúdos para arranjar e trazer lenha para o lume.
   Não havia pousos (Bancos para pousar os molhos), então nós os putos resolvemos fazer  uns tantos de longe a longe nesses locais, por onde passavamos, e onde poderia-mos ali descarregar a carga e descansar e depois voltar a carregar sem ajuda de ninguèm.
     Todos ajudaram a fazer, e o combinado era que todos ficavam com direito a utilizá-los. Mas depois deles feitos os direitos foram decretados e eram para serem cumpridos.Só um dos filhos do Moura "O Tono" rinha ajudado e como tal só ele teria direito.
      Nós carregavamos pouco, enquanto a Ti Rossa Moura e os seus quatro filhos se carregavam que nem bestas. Já sabiamos quando chegavamos com aquele feichezito e eles com aqueles feichezões as nossas mães comparavam e claro que saía corda por sermos malandrões, então a nossa vingança fazia-se em ocupar-lhe os pousos todos e eles não tinham hipótese alguma de aguentar os molhos até casa.
 A pobre da mulher bem berrava pelas nossas Mães, mas quando se fazia ouvir já não tinha alternativa, tinha de deitar o molho para o chão e já não o conseguia levantar.
  Eles sofriam de uma maneira, nós de outra, porque não escapavamos à respectiva tareia.
  Esta gente sofreu imenso. Não fosse o avô fazer uma quinta e seguramente tinham morrido de fome. A Ti Rosa só tinha direito a alguma coisa, quando ele lhe dizia ó Rosa deixa que eu dou-te uma saia nova e uma blusa. Mas isso era quando o rei fazia anos. Ele o Luis, merendava todos os dias a caminho da mina. Para casa toma lá nada. Passavam fome de rato.
    Também a vida não estava fácil porque tinha sido descoberto várias vezes a roubar a fruta na Quinta da Moira e a coisa estava preta.
      ENTRADA PARA A SEGUNDA CLASSE = A PEDRA PARA LEVANTAR A PERDIZ
      

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Aquele Par (Eu e o Fiafas)

Aquela dupla servia os interesses da professora.
O nosso péssimo comportamento, servia na perfeição à professora, que para alcançar os seus objectivos, teimava  em nos manter juntos, quando nos zanagava - mos, e isso acontecia amiúdadas vezes, ora um ora outro, pediamos -lhe para que nos coloca-se um em cada lugar, "melhor um em cada carteira", mas ela justificava-se que se o fizesse, nós iríamos prejudicar esse novo colega, mas acontecia: O Fifas a aprender não era Burro e  eu e modéstia à parte era o aluno que melhor aprendia, mas o pior era o comportamento", que poderia melhorar se nos separassemos e até havia carteiras que não eram utilizadas e a sala tinha espaço para que as colocassem.
  Mas a Professora gostava de molhar a sopa bem molhada e nós juntos dava-mos-lhe essa possibilidade.
A exemplo:- Antes de nós já tinha esgaçado (abrir e a sangrar) a orelha a um Aluno que até por sinal era filho de um senhor da Aldeia, que até tinha cinco quintas. (Um Feudal, O Ti Rocha).
Fugir da escola.    
   Não se passaram dois meses, para que quando ela nos ameaçava se nos desse tempo,eu e o Fifas nos pusessemos na alheta, aproveitando o facto das Janelas não terem vidros e tinhamos já o exemplo do Velhinho e outros mais antigos que também fugiam.
  Logo nas primeiras fugas o Cerqueira e o Serralheiro nos deram o total apoio, e os seus  bons conselhos, para que fugissemos e fossemos ter com eles, pois levariam um côdea de broa e uns rebuçadositos.
   Assim começaram as nossas fugas e sabendo que no outro dia levaríiamos a dobrar e em casa a receita não falharia, não nos desmotivava.
A viagem ao Sabado da Professora e do Coveiro
A professora não tinha transporte, o que a obrigava a  e se deslocar a pé cerca de 5 klm de Sebolido a Entre-os-Rios e ali apanhava a Camioneta da Carreira para ir passar o fim de semana a casa, "como o Coveiro Custódio todos os Sábados que era dia de darem Esmola aos Pobres na Quinta de Santa Cruz", fazia companhia à Professora.
 O meu Irmão Esmael que faleceu apenas com um ano de idade, o Coveiro ao cobrir o caixão deitou umas pedras juntamente com a pouca terra que existia no Cemitério, eu ao assistir aquela cena não percebia porque teria ele de enterrar o meu Irmão, umas semanas depois a Professora também me treinou a mim e ao Fifas, falamos com os Pombas e eles ajudaram a juntar Pedras no cimo das Fragas. No Sabado, esparamos por eles,  nunca vi uma professora velha correr tanto nem um Manco (o Coveiro), porque elas "as pedras"eram atiradas mesmo para acertar.
   Na segunda-feira lá tinhamos a receita do costume à nossa espera :- Régua e Cana. Foi dando ora a um ora a outra, mas quando lhe dissemos que se nos continuasse a bater nós fariámos pior, ela foi abrandando batendo mais leve e pouco depois desistiu.
   Andou ali um tempo, que ameaçava, quando batia era a sacudir o pó, mas perante a pressão do Serralheiro e do Cerqueira de quando em vez, lá íamos dando o salto, mas o castigo era sempre muito mais suave.
 Fim do primeiro ano escolar = Nova Professora e Novo Padre.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Nós e os Miúdos de Sebolido e entrada na Escola

C.T.T: Caramba Tanto Trabalhavamos !!!
Para um puto que ainda se preparava para entrar na Escola Primária,e que contava já com um passado de tal  traquejo, para que o comportamento fosse um pouco para além da idade que tinhamos.
     Pois todo aquele movimento dos jogos, a vida da pesca, os dos desafios que faziamos ao Rio,para aprender a remar e nadar, roubar as linhas do carrinho de linhas de coser as roupas, das nossas mães para aprender a fazer redes e pardelhos, "para pescar ao peixe miúdo", a obrigação de termos de olhar pelos irmão mais novos, eram um desafio constante e as faltas contantes do não  cumprimento com as regras que nos eram impostas, as justificadas razões  que levavam a que os nossos PAIS nos castigassem com porrada, que era a fruta desse tempo, por ir roubar fruta etc. etc. Advinhava-se  que  a nossa entrada para  a Escola  não nos iria trazer um modificação de comportamento de forma a que as professoras viessem a ver em nós crianças exemplares, e a terem uma vida fácil, nem elas também estavam muito interessadas em que isso acontecesse. Eram pouco pedagógicas. Também na Escola a prática corrente a aplicar para com os meninos mal comportados, eram os castigos de Régua e "Régua com milheiros" para as penas mais gravosas, e Cana da Índia,"pela cabeça, orelhas, a que nós mesmos as trazia -mos para a entregar à Professora e normalmente eramos os primeiros a sermos a estreá-la etc.
     Ainda para complicar  mais as coisas, nos iríamos juntar aos miúdos de Sebolido, a maioria filhos de lavradores e que pouco convívio tinham, já que ainda não havia Estrada nem luz Eléctrica.
Todo o transporte de mercadorias  eram feitos por barcos via Rio.
  Juntavam-se ali por vezes muitos barcos Rabelos e os Pescadores do Sável e Lampreia, onde nós por ali andavamos e ouviamos as conversas de gente adulta, o que contribuía para a nossa maior traquinice.
   Contrapunha com os miúdos de Sebolido que andavam nos campos e pouco conviviam entre si e até os filhos dos donos das terras eram pelos pais coniderados meninos de bem e proibidos de se misturavam com os filhosdos caseiros (lavradores os que amanhavam as terras) que eram os que lhes trabalhavam as terras e lhes pagavam renda.
     ENTRADA PARA A ESCOLA
Não foi difícil à professora obter informações detalhadas sobre o comportamento dos novos inclínos.  Quando entrei já  ela me tinha seleccionado a  ocupar uma carteira e do lado direito do corredor, sendo que o outro seleccionado para ocupara a mesma carteira  era  o Fifas (uma boa prenda) que só entraria uma semana depois, mas ela já tinha decidido aquele lugar ao meu lado que seria ocupado por ele.
   Bem tentei arranjar pretextos para que ela nãos nos meter juntos, mas de nada valeu.
   Tudo correu bem enquanto o Fifas não chegou, eu estava a gostar daquilo, pois os dias foram passando sem que os meus Pais me limpassem o pó e a Professora me chamasse à atênção. Estava a entrar num mundo do país das maravilhas.
    Já sabia que isto só duraria até ao dia que o Fifas entrasse na aula. Não me enganei, e logo no primeiro dia e sómente passada uma horita, o Fifas começa a conversar, eu respondi-lhe e ela que esperava aquele momento certo, não o perdeu, e vaí da sua Secretária atira com a Régua que bate na esquina da Carteira do meu lado e parte ao meio.
     Levantou-se,veio direita a mim e puxa-me uma orelha e o Fifas foi logo avisado, com um amarelo avermelhado.
     Começamos a medir os cantos à Escola e vimos logo que as Janelas não tinham vidros!!!
      Primeira fuga da Escola eu e o Fifas, como convinha.