terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Como fui feliz na minha infância = Tinha direito a sonhar

O Fim do Mundo no Ano dois Mil e o NatalQuais miúdos da minha idade não se lembram das professias daquele tempo em que se dizia que dos dois mil não passarás.
 Junto às margens do Douro, fazia-mos as contas dos anos que havia para viver.
 Era a altura da Tuberculose e via-mos morrer gente muito nova.
 Verdade, que as pessoas com sessenta anos era consideradas gente de muita idade, já que a média de vida rondava os sessenta anos. Morrer aos cinquenta e sete no meu caso, nem era muito mau.
O Peixe no Rio e outros meios de Subsistência!!!
O Rio nestas alturas, e mais concretamente a partir de Setembro e até Fevereiro não dava peixe, nem era permitido pescar.
    O dinheirito que as nossas mães ganhavam com a apanha e venda da Carqueja e da Queiró não dava nada, pois com o Inverno não dava para ir apanhá-la. Mas também molhada carregava-se meia dúzia de botenos.
   O meu Pai trabalhava nos Rabões como adventício e só de quando em vez lá aparecia uma viagenzita, por doênça de algum Barqueiro efectivo, mas também porque as cheias do Rio não permitiam o transporte e quando o faziam o Rebocador levava uma boa parte do dinheiro.
  A fruta!!! Apenas e só uma laranjas e nesta época azedas que nem rabo de gato.
  
Foi-se para o Talho o sustento da casa.
        O Porco, era o Governo da casa, e durante este período era o que valia, mas uma maldita doênça, neste ano, resolveu atacar o que tinha-mos  e que estava prevista a sua matança para uns quinze dias depois.
  Apanhou talvez uma pneumonia e quase de graça foi vendido para um talhante de Entre-os-Rios.
Valeu na circunstância as côdeas muitas vezes com Bolôr dos peditórios que a minha Prima Barrota andava a fazer diáriamente e assim se foi entretendo a barriga, com o bocado de adubo (toucinho) a ser deitado no caldo quatro e cinco vezes, misturamdo-lhe umas folhas de couve e uma mão cheia de farinha. Era melhor que hoje muitas vezes um bom bife. Aquela sopa sabia a tudo e então o rostulho!!!
  Mas no Natal lá houve as batas, a postinha de bacalhau e regadas com azeite das Oliveiras lá de casa.
   A aletria e as Rabanadas também não faltaram.
    O Menino Jesus (Pai Natal de Hoje) também colaborou e lá deixou ficar na Lareira umas Bolachas de Água e Sal.
E claro para que fosse  um Natal muito feliz, tinha lá o coração da minha Mãe a jorrar pingos de amor.
    Fui muito feliz com os Natais  da minha Infância.
  A vida tinha-nos ensinado a ser humildes.

Uma Paixão que perdura
Desses tempos  de atroz
Mas a tradição continua
Vinda de meus Pais e Avós

1 comentário:

  1. Parece-me que a cantilena dizia:
    - De mil passarás, a dois mil não chegarás!
    Pelos vistos dessa maldição já nos safámos.
    Quanto à miséria e fome que descreves é uma verdade indesmentível. Infelizmente também convivi com ela.
    E não foi assim há tanto tempo, mas parece que já ninguém se lembra.
    Havendo broa na masseira e um caldo de couves com farinha de milho, já ninguém morria de fome. E mais que isso só em dias de festa ou... em casa de ricos.

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