sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
Um Ano em Criança Traquina, é muito tempo.
Novas actividades.
Se a idade pode parecer muito pouca, a verdade é que as coisas aconteciam de forma a que os nossos desafios superassem a própria idade.
Como em outro blogue referi: o termos como apenas seis anos de idade, ter ído roubar dois cravos, duas abôboras e uns tantos pessegos valeu para que essa Beata Solteirona e Catequista Ti Maria Zé nos tivesse chamado a GNR. A mãe do outro, que contava cerca de nove anos, decidiu não pagar, a minha como pagou logo, teve de pagar 25 $50 e a Ti Micas do Pedro 30$50, dava naquele tempo para florir o rio Douro todo.
O leite da Figueira brava, o tirar das linhas do carrinho das mães remendar a roupa,o atarvessar o Douro a nado, para um e outro lado, o pescar à loca ( Era mergulhar e meter a mão nos buracos que havia nas pedras e onde o peixe se metia.)
Também já outras duas actividades começavam a ser desempenhadas, roubar a Peneira ou o Crivo para apanhar a Loura (enguia pequenina) e que se comiam, quando não havia azeite, coziam-se e com uma côdea de brôa por vez cheia de bolôr, já dava para matar a fome e andar todo o dia na boa vai ela.
Cabo de Ordens, Professor, Padre e Catequista.
Começa de novo a Escola para a segunda classe e com ela o Cabo de Ordens que era Sapateiro e a quem os nossos Pais lhes pediam para nos tentar meter na linha, entrava também um novo, uma nova Professora, um novo Padre e o ter de aturar a peste da Catequista, que desde sempre nos fazia a vida negra..
Adivinhava-se um ano tremendamente difícil, enquanto decorriam as férias, o Cerqueira e o Serralheiro, cada vez se tornavam mais exigentes e agressivos.
Também já as exigências eram maiores a nivel caseiro. Se de manhã tinha de ficar a olhar pelos meus Irmãos, enquanto a minha Mãe que saía de casa por volta das cinco da manhã para ir à lenha da Serra, carregando Carqueja que trazia à cabeça e feita em Botenos (molhinhos pequenos) que carregava cerca de cem, e que, depois vendia por 2$50, para os donos dos Rabões (Barcos grandes de Carga, feitos de madeira) e que era transportado para o Porto, onde ali era vendido para as Padarias.
Depois da parte da tarde lá íamos os miúdos para arranjar e trazer lenha para o lume.
Não havia pousos (Bancos para pousar os molhos), então nós os putos resolvemos fazer uns tantos de longe a longe nesses locais, por onde passavamos, e onde poderia-mos ali descarregar a carga e descansar e depois voltar a carregar sem ajuda de ninguèm.
Todos ajudaram a fazer, e o combinado era que todos ficavam com direito a utilizá-los. Mas depois deles feitos os direitos foram decretados e eram para serem cumpridos.Só um dos filhos do Moura "O Tono" rinha ajudado e como tal só ele teria direito.
Nós carregavamos pouco, enquanto a Ti Rossa Moura e os seus quatro filhos se carregavam que nem bestas. Já sabiamos quando chegavamos com aquele feichezito e eles com aqueles feichezões as nossas mães comparavam e claro que saía corda por sermos malandrões, então a nossa vingança fazia-se em ocupar-lhe os pousos todos e eles não tinham hipótese alguma de aguentar os molhos até casa.
A pobre da mulher bem berrava pelas nossas Mães, mas quando se fazia ouvir já não tinha alternativa, tinha de deitar o molho para o chão e já não o conseguia levantar.
Eles sofriam de uma maneira, nós de outra, porque não escapavamos à respectiva tareia.
Esta gente sofreu imenso. Não fosse o avô fazer uma quinta e seguramente tinham morrido de fome. A Ti Rosa só tinha direito a alguma coisa, quando ele lhe dizia ó Rosa deixa que eu dou-te uma saia nova e uma blusa. Mas isso era quando o rei fazia anos. Ele o Luis, merendava todos os dias a caminho da mina. Para casa toma lá nada. Passavam fome de rato.
Também a vida não estava fácil porque tinha sido descoberto várias vezes a roubar a fruta na Quinta da Moira e a coisa estava preta.
ENTRADA PARA A SEGUNDA CLASSE = A PEDRA PARA LEVANTAR A PERDIZ
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O roubo dos cravos, abóboras e pêssegos fez-me lembrar aquela vez que fui roubar pêssegos na Quinta de Coina e o guarda nos mandou 2 tiros de caçadeira por cima da cabeça que nos puseram a correr até à caserna da Escola.
ResponderEliminarUff, que susto!
Por falar em Coina... vocês lembram-se de um velhote que ia buscar os restos da comida à cozinha da EF com uma carroça?! Por vezes também ia lá uma velhota... velhota é como quem diz uma senhora velhota que... a troca da Coina o pessoal de faxina enchia-lhe as marmitas... Se te lembrares Tintinaine alarga o assunto... Belos Tempos!
ResponderEliminarValdemar Alves
Palavra de honra Valdemar que estou ansioso que cheguem os capitulos de quando foste para a EAM... e aí é que esta festa vai animar com a história "da Alentejana da Linha!"
ResponderEliminarValdemar Alves
Deixa lá que também passastes umas boas, enfim por essas e por outras ficou o Pais a abarrotar de ouro, e o Povo sem «cheta».
ResponderEliminarQuando descreves o Cabo de Ordens, julgo tratar-se da mesma Entidade que na minha terra se intitulava Cabo Chefe, e que era uma espécie de ajudante do Regedor, Autoridade máxima das Aldeias.
Um abraço
Virgílio
O Velhote da lavadura (que conheci muito bem) era sogro da irmã mais velha da Miss Br... (sabem a quem me refiro?)
ResponderEliminarQue histórias conhecem vocês a respeito desta personalidade?
Podem falar que eu escuto e comento.
Nada!... Só conheci o velhote da lavadura e a tal senhora que vinha encher as marmitas.
ResponderEliminarValdemar Alves